Há muito que não escrevia para aqui. Estranho...
A qualidade da obra de arte depende essencialmente de três coisas, talento/qualidade artística, do encomendador e do tempo. Se pensarmos por exemplo na última ceia de Leonardo da Vinci, temos um exemplo perfeito, um enorme talento do pintor, um grande encomendador e muito tempo disponível para fazer a pintura. O mesmo para Giotto com a capela de Scrovegni, estamos a falar do maior talento da época, com o melhor encomendador possível e tempo para concretizar a mesma. Mas voltando à última ceia, para mim é este o melhor exemplo, porque a realidade é que por exemplo o material com que foi concretizado, têmpera sobre fresco, levou rapidamente à deterioração da mesma, logo a qualidade dos materiais não é assim tão relevante para concretizar uma obra de arte, mas sim para a conservação. E ainda dou mais outro exemplo, neste caso português, o palácio convento de Mafra, é uma enorme obra, sem dúvida, mas a sua qualidade talvez fique aquém daquilo que podia ser, devido mesmo aquelas três razões, tinha um enorme encomendador, todos os fundos disponíveis quer financeiros, quer humanos para concretizar a obra, mas devido a alguma pressa do Rei D. João V em concretizar a obra, não é Juvara que fica à frente da obra, mas sim Ludovice, um era talvez o maior arquitecto da Europa e o outro era um ourives de Roma. Isto não significa que o enorme monumento de Mafra seja uma obra menor, já que acaba por concretizar dois daqueles dois pontos fundamentais e tem tudo o resto, mas é possível afirmar que o potencial era muito maior, se o arquitecto fosse mais talentoso.
E este é o problema da pintura portuguesa e do resto da arte, muito raramente os encomendadores tinham gosto ou capacidade financeira para realizar grandes encomendas, não são assim tão frequentes o pintores portugueses de qualidade e o tempo disponível para concretizar as obras normalmente não é muito, devido a limitações financeiras. Existem bom pintores na história da arte portuguesa que talvez nunca tenham passado da mediocridade por não terem possibilidades de usar todo o seu talento e talvez tenha existido muitas vezes capacidade de encomendar, mas a não existência de talento, ou a falta de tempo levou a que muitas obras também nunca tenham tido qualidade. E é isto que acontece na arte neoclássica portuguesa, muita mediocridade e dois pintores de relevo, mas mesmo assim é complicado sentir que esses dois pintores atingiram tudo o que podiam ter dado e é bem mais visível os problemas da encomenda e da instabilidade da época e consequentemente do tempo disponível para obras. Sequeira inicia quatro grandes pinturas, com um desenho de precisão neoclássica, mas de um gosto romântico, místico, neo-barroco, só que as limitações da vida não permitem a conclusão das mesmas. Em Portugal, a escassez de encomendadores de qualidade quase que o levam à depressão e a fuga do rei, o grande encomendador acaba por levar a pintura de Sequeira por um caminho de qualidade menor. O mesmo aplica-se a Vieira Portuense, este acentuado por morrer cedo por doença.