terça-feira, 16 de outubro de 2018

Antoni Gaudí, características da sua arquitectura.

Antoni Gaudí, arquitecto catalão da transição do século XIX para o XX, é ao mesmo tempo um tradicionalista e um inovador, mas será acima tudo um arquitecto genial e único no seu pensamento construtivo. 

Inserindo-se na corrente internacional da arte nova e no neo-gótico iniciado por Violet-le-Duc, cria uma arquitectura única, que utiliza os materiais tradicionais do gótico como a pedra e o tijolo, mas que ao contrário do francês não procura ultrapassar os problemas enfrentado pelos arquitectos medievais a partir da utilização do ferro, nem na utilização dos suportes góticos de contrafortes e arcobotantes, mas sim dando novas soluções para os mesmos materiais, procurando a unicidade, equilíbrio e proporção. 

Uma das obras que melhor exemplifica as soluções encontradas por Antoni Gaudí, é a cripta da Colonia de Guel, parte de uma igreja nos arredores de Barcelona que ficou inacabada. Para criar esta maravilha arquitectónica de pedra e tijolo (figura 1), o arquitecto recorreu a um modelo engenhoso que marca toda a sua obra. 

Figura 1

Constrói um modelo polifunicular, numa escala 1:10 construída numa barraca do estaleiro, constituída por cordas suspensas no tecto, às quais foram presas sacos com chumbo representado os pesos e posições das cargas exercidas sobre a estrutura, formando assim uma combinação de curvas catenárias, onde o arquitecto deveria posicionar os arcos e colunas. O arquitecto depois de formar o modelo, fotografou-o e desenhou a sua imagem ao contrário. São várias as imagens disponíveis na internet destes modelos de Gaudí, que mesmo alguns não sendo originais demonstram na mesma o engenho da arquitectura de Gaudí. (Figura 2) 

Figura 2
Antoni Gaudí tem uma pergunta retórica e consequente resposta, que ajudam muito a compreender a obra do mesmo. 
“Querem saber onde encontro os meus modelos?”
“- Uma árvore erecta; esta suporta o seu eixo, este suporta os seus ramos e estes, por sua vez, suportam as suas folhas. E cada parte cresce em harmonia da forma magnífica que deus as criou. Esta árvore não necessita de qualquer apoio externo. Todas as coisas se encontram em equilíbrio em si mesmo. Tudo está em equilíbrio” 
Este objectivo de agarrar nos valores da natureza e transformar-los em arquitectura é talvez o separa Gaudí dos outros arquitectos, afastando-se se das linhas rectas, de valores e ideias estanques, dando à sua arquitectura as linhas curvas que melhor suportam as cargas, visíveis principalmente na vasta utilização de arcos catenários/parabólicos. 

Figura 3
Uma das melhores obras para demonstrar o carácter único da arquitectura deste catalão é a Casa Milà, edifícios de apartamentos na cidade de Barcelona mais conhecido por “La Pedrera” (Figura 3). Edifício que se assemelha a uma enorme escultura abstrata em pedra, uma enorme massa moldada à semelhança de um mar revolto. Uma fachada de formas ondulantes, onde cada vão é diferente do outro, tal como no interior nenhum piso é igual, um edifício que respeita assim os valores de equilíbrio do material, abdicando até de paredes de tijolo e suporte, sendo suportado por um piso subterrânea constituído por grandes arcos catenários (Figura 4). 

Figura 4

Dicionário: Arco Catenário, ou arco parabólico, são arcos que formam uma parábola ou parte de uma elipse, sendo formados pela força sobre uma corda presa nas duas extremidades.

Bibliografia: Fahr-Becker, Gabriele. A Arte Nova. Konemann, 2000.