domingo, 29 de maio de 2016

Vila Real de Santo António - Cidade "Sexy"

Neste mês de Maio li uma notícia em que o presidente da câmara de Vila Real de Santo António dizia que queria dar um ar mais "sexy" ao centro histórico das cidade a partir de algumas intervenções de reabilitação.
Podem imaginar que para alguém que conhece a história e a importância da cidade de VRSA o estrangeirismo "sexy" está longe de encaixar. A cidade tem de ser mais iluminista, mais próxima daquilo que é a sua origem, porque aí se encontra a riqueza e a diferenciação da mesma. Mas pronto, deixando estas coisas menores, até posso ver as coisas de forma positiva e encontrar uma mentalidade de valorização do centro histórico, mesmo que não seja perfeita. O problema é que eu conheço a cidade, conheço o trabalho do presidente de câmara e praticamente todos os dias faço caminhadas pela cidade. O que é que eu vejo? Bem, já reclamei dos carroceis, dos estado urbanístico e outras características que se afastam da racionalidade na origem da cidade. Agora o que é que eu tenho para reclamar? Do "sexy", do verdadeiro "sexy", da verdadeira mentalidade que está por detrás de quem gere a cidade. Na imagem podem ver o estado da calçada e que na mesma se encontram corpos de gatos mortos e em decomposição, a mesma calçada encontra-se defronte, em direção ao rio, da zona industrial e antecede em poucos metros o edificado recente da cidade, além da também abandonada e em estado deplorável zona de transporte público rodoviário. Eu não escrevi este texto mais cedo porque quis dar algum tempo de margem para ver se a câmara realizava algum trabalho, mas passado uns dias nada foi feito. E esta é a verdadeira cidade "sexy", não se deixem enganar por publicidades enganosas, ou por números fantásticos de investimento urbano, porque a realidade da cidade é esta. O futuro das cidades está também dependente é dos seus habitantes, de uma verdadeira democracia, de uma participação popular que permita a melhoria das condições de vida nas suas cidades. A população não pode continuar a deixar-se ser enganada, a pensar que democracia é reclamar com o "Costa" ou o "Coelho", porque não é, a democracia baseia-se na participação activa e a mesma deve começar pelos sítios de residência.
De realçar que isto não necessita de investimento avultado, é só mesmo uma demonstração do espírito que rege a cidade de Vila Real de Santo António e outras tantas neste Algarve.


terça-feira, 10 de maio de 2016

Igreja de São Francisco, Faro

Vou tentar facilitar, deixar de parte os pontos mais científicos e conhecidos da história como são as datas e os nomes. Será uma análise da qualidade artística e da sua importância. 
Quem entra na Igreja de São Francisco de Faro é logo absorvido por uma belíssima obra de arte total. Curiosamente a entrada na igreja é a parte mais recente da igreja, este primeiro espaço corresponde à nave e é composta por pinturas e talha policromada a fingir marmoreados. As pinturas são das mais interessantes na cidade de Faro, pertencem ao estilo artístico conhecido por neoclassismo (Finais do século XVIII e inícios do século XIX) e são encomendadas em Roma pelo mais saudoso Bispo do Algarve. Um Bispo que é um mecenas das artes e traz para o Algarve um novo gosto artístico. É esse o estilo que podemos ver nas pinturas com cenas da vida de São Francisco, realizadas por dois artistas Romanos, destaco principalmente as figuras angelicais dos quadros no lado esquerdo, tocam instrumentos musicais e são de uma grande sensibilidade pictórica. 
O espaço central da Igreja, é um octogono, uma tipologia arquitectónica de grande erudição, realizada pelo principal mestre pedreiro (arquitecto) Algarvio no século XVIII. Espaço que conjuga ainda uma riqueza decorativa composta pela talha e o azulejo, as grandes artes portuguesas no período barroco. Os retábulos de talha dourada, os grandes arcos policromados e a cúpula... O que dizer da cúpula? Não sei, visitem, admirem e deixem-se estar. Todo um conjunto de talha rococó, único e que conjugado com os azulejos de períodos distintos, mas também de grande qualidade, torna este espaço num dos mais importantes da Arte Algarvia e um dos mais importantes do período rococó em Portugal.
O último espaço, composto igualmente por azulejos e talha, mas onde os azulejos assumem uma importância maior. Apesar de todos os problemas que o terramoto de 1755 criou na Igreja, a verdade é que ainda se pode admirar nas partes laterais da abóbada o trabalho executado pelo principal mestre azulejador português, além do no espaço central visualizar-se outros azulejos rococós, que se distinguem perfeitamente pelas cores douradas e roxo-de-manganés. Por último o retábulo da Capela-Mor, ao fundo da mesma, realizado principalmente em talha dourada, composto por um enorme trono e sobre o mesmo encontra-se um dossel enriquecido por Sanefas. 
Uma igreja de enorme qualidade arrisca, lindíssima, uma preciosidade da arte algarvia, que merece ser mais destacada e mais visitada. Localizada no Largo de São Francisco, frente à ria, próxima das muralhas, junto ao Convento de São Francisco que é hoje a Escola de Turismo. 
Que a mentalidade vá mudando, que o "nosso" seja valorizado, a cultura ganhe importância e o Algarve deixe de ser esta "pobreza franciscana".




terça-feira, 3 de maio de 2016

Ermida Senhor do Bonfim, Horta do Ourives

A capela que nunca sofreu uma obra de intervenção, apesar de já em 1977, Pinheiro e Rosa, publicar um artigo no jornal "O Algarve" alarmar para a situação de abandono, ano em que ainda se encontrava num "estado tolerável" de conservação, mas que como o próprio indica, passados sete anos o estado de ruína era desolador. Passados uns anos, em 1999, também Francisco Lameira, no desdobrável sobre o desembargador, refere a necessidade de "reabilitação urgente". Passados quase 40 anos do toque de alarme de Pinheiro e Rosa, nada foi realizado, só é possível imaginar o quanto se perdeu nestes anos. Um excelente exemplo de falta de sensibilidade patrimonial, num local onde hoje atravessa um importante eixo viário, onde foi realizada a grande obra de arquitectura contemporânea do Teatro das Figuras, realizadas urbanizações e zonas comerciais, mas um pequeno templo religioso composto por uma riqueza decorativa interior louvável, encontra-se em ruína avançada.
Será este o Algarve que queremos?