Eu nesta cidade acho que vejo de tudo. São tantas as pequenas ilegalidades que às tantas a população já deve achar normal. Eu sei que Vila Real de Santo António, apesar do seu nome pomposo e a sua fundação nobre, continua a ser Portugal, com uma população que desconhece por completo a cidade em que vive, mas mesmo assim tem que haver limites, a câmara municipal não pode deixar tudo acontecer.
Existe um hotel no centro histórico que tem uma garagem de acesso sobre um passeio e zona pedonal. Nem devia existir um hotel naquela zona, muito menos sendo um edifício com quatro andares, nem a respectiva garagem. Mas pronto, lá está o hotel, os carros podem aceder à garagem apenas a umas respectivas horas, o problema é que os abusos da lei fazem com que haja carros a toda a hora, que entram à vontade e vão além do acesso ao hotel, transformando uma rua pedonal num parque de estacionamento.
Depois são as esplanadas por tudo o que é sítio, o passeio nesta terra ou tem carros, ou tem esplanadas, tendo muitas vezes ambos. Destaco principalmente a esplanada antes da estação ferroviária como o abuso total, que "empurra" os peões para a estrada.
Os ciclistas andam tanto pelo passeio, como pela estrada, ciclovias urbanas é coisa inexistente. Ayamonte aqui ao lado, tem ciclovia pela cidade quase toda. Não esquecer que apesar de Ayamonte ser Espanha, é também Andaluzia, uma região pobre e com números de desemprego assustadores.
As motas estacionam todas no passeio, alguns até têm o desplante de meter uma capa e de as deixar eternamente no passeio.
Marquises pela cidade toda. Casas de alvenarias e compostas com argamassas de cal, recuperadas com rebocos de cimento, daqui a uns anos choram. Carros, carroceis, bancas e afins colocadas eternamente na praça real da cidade, transformando o espaço nobre, numa espécie de feira eterna.
E hoje, na minha caminhada, descubro uma nova ilegalidade que despoletou a necessidade de escrever este texto. No bairro social em frente ao lidl, alguém decidiu agarrar nuns tijolos e cimento, construindo um pequeno espaço em frente da sua casa, no passeio público, utilizado esse pequeno espaço como uma espécie varanda/balcão privativo. Como é que é possível tal acontecer? A pessoa simplesmente chegou e tirou um espaço público.
A cidade funciona toda de uma forma muito estranha. Tem umas placas ao nível dos maiores ditadores, a glorificar as obras deste executivo. Outras placas a dizer uma hipotética candidatura a património mundial, fazendo de conta que já o é.
Mas pronto, como nós em Portugal confundimos democracia com liberalismo, achamos que está tudo perfeito e que não há nada a fazer.
domingo, 31 de julho de 2016
segunda-feira, 18 de julho de 2016
Um Algarve de Futuro?
Hoje uma notícia do jornal Público, informava que finalmente no Algarve a construção realizada de casas novas, tinha por base a demolições de edifícios com cerca de 30 anos, em vez da ocupação de terrenos e terrenos, como tem sucedido ao longo das décadas no Algarve, onde zonas verdes, aquíferas, de reservas agrícolas e outras foram ocupadas em prol da loucura da construção civil que respondia a todos os males da sociedade, mas na realidade destruía maior parte dos valores ambientais e paisagísticos do Algarve.
Eu dificilmente podia ficar mais feliz, talvez por este caminho possam acontecer várias coisas fantásticas num período de algumas décadas. Primeiro, pode ser que estas demolições cheguem até aos inúmeros prédios construídos nas décadas de 70 e 80, dando lugar a edifícios de maior qualidade e de menor dano para o aspecto visual das cidades (só de imaginar Faro sem o edifício do "Seu Café" fico arrepiado). Depois com as demolições abrem-se hipóteses do Algarve agarrar novas oportunidades de valorização da sua cultura e tradição. Os materiais como o cimento e o betão são excessivamente poluentes e prejudiciais para o meio ambiente, principalmente percebendo que terão um curto período de vida e dificilmente são reutilizados. Logo materiais e formas construtivas tradicionais, como o Taipa, a Cal ou a utilização de Alvenarias, podem muito facilmente ter lugar nestas novas construções (um mero exemplo, muito recente "http://www.sulinformacao.pt/2016/03/clube-house-do-espiche-golfe-e-unico-nomeado-do-algarve-para-premio-nacional-do-imobiliario/"). São bastante mais ecológicos, considerando que maior parte das vezes são mesmo os materiais que existem no próprio terreno, sendo também muito facilmente reutilizáveis. Os romanos utilizavam estes materiais, faziam enormes Vilas de um luxo dificilmente existente hoje no triângulo dourado do Algarve, e faziam-no com uma inferior capacidade tecnológica. Para o Algarve se tal acontecesse era fantástico, aumentava a independência da economia algarvia, dinamizava tradições milenares, criava empregos de maior valor do que o simples assentamento, contribuindo para uma industrialização que devia ter acontecido logo no período em que o turismo chegou e construção começou em grande escala, em vez do abandono dos materiais tradicionais em prol de outros já industrializados vindos do exterior. Além disto a conservação e reabilitação do edificado tradicional retiraria consequências muito positivas, já que a tradição mais do que um sinónimo do passado, seria uma força com passado, presente e futuro, criando os conhecimentos e capacidade construtiva que hoje se encontra quase esquecida.
Noutro nível, terrenos actualmente abandonados, literalmente à espera de terem licenças para construção, podiam finalmente desistirem de tais esperanças e voltarem a ter utilização agrícola. Principalmente os terrenos do litoral, antigamente terrenos de grande produção vinícola ou de importantes hortas, mas também os terrenos do barrocal e interior podiam recuperar as tradições de culturas agrícolas se sequeiro, menos prejudiciais para os terrenos, com um nível baixo de consumo de água, que em tempos foram o sustento das populações algarvias e mesmo importantes fontes de riqueza, falo pois, da figueira, da amendoeira e alfarrobeira.
Como as minhas esperanças crescem com uma simples notícia de demolições de casas, para se realizarem outros casas de luxo, vejo um sinal de toda uma mudança no Algarve. A verdade é que esta grande mudança, tão necessária para acabar com a sazonalidade extrema e o desaproveitamento das potencialidades económicas do Algarve, só acontecerá com uma grande mudança de mentalidades e a iniciativa de quem pensa de forma diferente. Por enquanto o Público, na minha opinião de longe o melhor jornal português, vai colher informações em empresários de construção, muito limitados nos seus conhecimentos e em donos de bares ou discotecas, que pouco mais sabem do que explorar uns quantos jovens necessitados de emprego durante os meses de verão.
Aqui fica a notícia e o trecho que considerei mais importante:
“Novo negócio do Algarve é demolir casas de luxo para construir de novo” - Idálio Revez 18/07/2016 - 07:24
“…Na área da construção civil — particularmente no segmento médio/alto —, o mercado voltou a dar sinais de recuperação. Desde o último trimestre do ano passado e primeiro trimestre de 2016 foram vendidas, no Vale do Lobo, 70 moradias — a maior parte das aquisições com o objectivo de deitar abaixo e construir de novo. Em casas com 20 ou 30 anos de idade, quando se pretende adquirir novos níveis de conforto, aconselham os técnicos, não compensa o restauro. É mais fácil (e às vezes mais barato) construir de novo. … “
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