Apenas neste mês de março de 2019, visitei pela primeira vez o Museu Nacional de Arte Contemporânea e no meio de muita pintura que captou o meu olhar mais atento, principalmente as obras românticas e naturalistas do século XIX, destacou-se a obra Só Deus! de Francisco Metrass.
É uma obra romântica, com enorme intensidade emocional feita para captar o nosso olhar.
Francisco Metrass (1825-1860) português de nascença e descendente de italianos, teve os seus primeiros anos de formação em Portugal com os mestres Joaquim Rafael e António Manuel da Fonseca, tendo partido para Roma com 20 anos de idade para ter como mestres dois pintores alemães, Peter Von Cornelius e Johann Friedrich Overbeck que faziam parte do grupo dos Nazarenos (que se dedicavam a uma pintura de temática religiosa e consoante padrões artísticos próximos daqueles realizados no século XV em Itália).
Mas antes de voltar a Portugal no ano de 1847, passa pela cidade de Paris, que tinha destronado Roma como capital da arte desde do Neoclassicismo de David e continuado como capital da arte europeia ao longo da primeira década do século XIX com o Romantismo de Gericault e Delacroix. Sendo um dos primeiros artistas portugueses a receber os ensinamentos na cidade das luzes, sendo fortemente influenciado pela pintura romântica, visível na obra me trouxe à escrita deste texto.
Com êxitos modestos no regresso a Portugal, volta para Paris para se dedicar à aprendizagem da arte romântica francesa, pintura de maior dramaticidade, intensidade no colorido e nos movimentos.
Será na década de 50 que encontra o seu estilo e produz as suas melhores obras, como Camões e o Jau de 1853, infelizmente é nesta mesmo década a sua saúde começa a deteriorar-se e falece na madeira em 1861.
No ano de 1856 que realiza a pintura Só Deus!, apresentada ao público na Academia de Belas-Artes.
A tela apresenta uma mãe e um filho numa cena de desespero, que como o título indica, já mais nada resta que os possa salvar senão Deus.
Construído numa diagonal, a partir do corpo nu da mãe, o momento captado é uma mulher e o seu filho trazidos por uma corrente de água acelerada, em que a mãe num gesto de desespero pela própria vida e do filho se segura a tronco quebrado. É todo um momento de dor, que nos atira para dentro da tela, vemos o corpo da mãe já lívido, concentrando todas as suas forças no segurar do tronco com o braço direito esticado e do filho com o braço esquerdo dobrado, já com a cabeça caída de cansaço e sem forças para mais movimentos, a criança puxa os cabelos da mãe numa tentativa desesperada de obter uma reação da mesma, desespero visível na face da criança.
Momento de amor maternal e momento de dor, uma morte iminente que dificilmente não emociona também o observador, com a iluminação a intensificar, com focos de luz nos dedos da mão que agarram o tronco, no corpo da mãe e na face da criança.
A qualidade da obra obviamente que não passou despercebida, sendo adquirida pelo Rei Consorte D. Fernando II.
Bibliografia:
Páginas 274 a 278. França, José Augusto. A Arte em Portugal no Século XX, volume I. Lisboa: Livraria Bertrand, 1966, p 274 a 278.
Pamplona, Fernando. Dicionário de Pintores e Escultores. Barcelos: Livraria Civilização Editora, 2ªEdição, 1998, p 145 e 146.
Saldanha, Nuno. Francisco Metrass (1825-1861). Melancolia, Eros e Tanatos.
Sem comentários:
Enviar um comentário