No outro dia fiz uma visita maior à minha cidade natal (Vila Real de Santo António). Analisar algumas das características que compõem uma das mais importantes cidades iluministas.
Todos sabem o estado actual do Algarve, obviamente que uma cidade construída com base na racionalidade, não encontra neste Algarve actual condições para manter os valores de razão que dão razão à cidade.
Observando os Vãos, as molduras de cantaria, observamos regras iguais para todos os edifícios nobres (dois pisos), na fachada da cidade, retirando o edifício de Alfândega, todos os restantes têm a mesma composição. Qual é a importância disto? A demonstração da racionalidade na construção da cidade. Eu não posso dizer que a cidade é iluminista senão assumir estas regras. Hoje em dia nem todos os edifícios assumem esta racionalidade ao pormenor, mas o que mais me escandaliza é o vão principal do edifício da câmara. É uma reconstrução que procura recuperar os valores de racionalidade perdidos com o antigo edifício construído no século XX. Os dois Vãos laterais permanecem com molduras que seguem as regras, mas por alguma razão o principal, é como todos os Vãos dos últimos anos, meros buracos.
É uma minudência, mas é do pormenor que a cidade se diferencia, se na praça nobre, numa reconstrução, o edifício não assume os valores definidos na fundação, é uma demonstração da fraqueza de espírito que hoje controla essa cidade.
Os carroceis eternos na praça real (hoje denominada por Praça Marquês de Pombal), os trampolins e outras tantos factores são demonstrativos que ainda ninguém descobriu a diferença, o valor da cidade. Isto será realmente importante? Depende do que se quer para a cidade. A cidade pode ser diferente das restantes, mas tem que se afirmar, não pode ceder constantemente à especulação imobiliária ao interesses mesquinhos de políticos, de arquitectos sem noção e de uma população que desconhece onde vive. Se quiser ser Património Mundial da UNESCO, não pode continuar nesta toada de destruição. Não fui eu que fiz candidatura, foi o município, mas aqui apresento um exemplo de algo que a cidade tinha de fazer para entrar nessa estrita lista.
Mais, nesse dia visitei as dois largos inicialmente feitos, dois largos com especificidades muito interessantes para a história do Urbanismo, o Largo da Fonte, a água, (essencial num tempo sem canalização como a de hoje em dia) e o largo da Estalagem, onde nasceu o notabilíssimo António Aleixo e onde existiu um Pelourinho (sim, o Obelisco na Praça Real tem tanto de Pelourinho, como portas em alumínio de sentido). O largo da estalagem demonstra também como nada ficou esquecido, algo que hoje em dia parece apenas um sonho. Dois belos largos, com localizações praticamente perfeitas, com espaço e no caso da estalagem com uma importância simbólica enorme. E o largo da fonte? Pois esse, alguém lembrou-se de colocar sienito (que é perfeito em muitos locais, mas não em todos) no pavimento, uns bancos em cimento, desvalorizando a fonte tão simples como significativa, isto além dos edifícios já completamente incaracterísticos, com varandas de sacada que invadem o espaço da praça.
Não é fácil chamar atenção para essas coisas, as pessoas hoje em dia tem poucas noções de civilidade, da importância do ambiente urbano e têm conceitos na cabeça muito perigosos para o património. Mas isso não diminui a importância do património urbano e é por isso que venho aqui escrever este pequeno texto, uma mera conclusão de duas visitas à cidade no dia de Páscoa.
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