domingo, 9 de abril de 2017

Património e a sua destruição

Tanto é o património destruído no Algarve. 
Qualquer leitura sobre o património algarvio parece estar sempre ligada a uma forte destruição do mesmo. Encontram-se túmulos megalíticos, fustes romanos, cerâmicas islâmicas e tudo passa como se nada fosse. É incrível, assim perpetua-se a ignorância de um Algarve sem antiguidade e património. 
E não é só no passado, a destruição continua nos nossos dias, constantes intervenções com materiais recentes, como o cimento e as tintas plásticas, em alvenarias antigas e tintas de cal, enriquecidas por anos e anos de caiação, tudo destruído pela ignorância. Pelo sentimento de que o Algarve nada tem, por isso não faz sentido conservar seja o que for. E assim, devagar, devagarinho, o Algarve vai ficando cada vez mais pobre, e aproximando-se da ideia que os ignorantes têm do mesmo. Basta pensar no caso recente de Olhão, uma igreja com uma importância histórica impressionante, uma igreja daquelas dimensões, daquela qualidades arquitectónica quando as casas eram de palha e a igreja é tratada pelo padre, como se não tivesse importância e que o que precisava era mesmo de cimento e tinta plástica. Eu como aluno de património, que já estudei várias igrejas, de várias cidades, portuguesas e europeias, tenho a dizer que igreja matriz de Olhão foi a que mais me impressionou. 
Depois eu já compreendi uma realidade, as casas do século XVIII e XIX, herdeiras das casas dos séculos anteriores, já foram abaixo e agora o caminho é destruir as do XX (muitíssimas também já o foram, mas mesmo assim muitas sobreviveram), as casas com azulejos nas fachadas, as casas com platibandas e trabalhos em massa, estão todas marcadas para demolição e criação de mais mamarracho. Não são casas muito antigas, mas mostram um gosto e uma qualidade decorativa, que rapidamente desapareceu para dar lugar ao alumínio, cimento e tinta plástica (algumas mantiveram a ideia do azulejo, mas aqueles azulejos horríveis de produção industrial). Além de que são as últimas casas algarvias, é quase o último património urbano do Algarve. 

Tudo vai a caminho da destruição e será o meu destino assistir a essa destruição? Ou conseguirei atingir os meus sonhos rapidamente e parar essa destruição? (Tenho que começar a fazer textos, para livros sobre a arquitectura algarvia do século XX) 

Sem comentários:

Enviar um comentário