quinta-feira, 28 de abril de 2016

Artemísia Gentileschi

Há pouco tempo, num programa sobre as mulheres pintoras, transmitido pela RTP 2, foi-me dado a conhecer a biografia e obra de uma pintora barroca de nome Artemísia Gentileschi.
Não sei se existe história mais impressionante de uma mulher pintora, tal história de vida que conjuga com uma mestria enorme nas execução da suas telas. Por vezes a história é cruel, simplesmente porque é feita por Homens com defeitos e virtudes, só assim se pode explicar algum esquecimento dos talentos de Artemísia.
As suas telas espelham as inovações barrocas desenvolvidas pelo grande Caravaggio, amigo do pai de Artemísia e seu mestre. O que é que Caravaggio desenvolve? Principalmente as telas do chiaroscuro, o claro-escuro, que intensifica as sombras e as luzes, criando partes do quadro absolutamente obscuras e outras de cores e luzes intensas. Os temas tratados por Artemísia são vários, como não podia deixar de ser para uma pintora tão inventiva, mas destacam-se os temas femininos, quer da mitologia grega, quer das histórias bíblicas. Traz uma nova perspectiva para o mundo feminino na arte, porque a pintora não trata só de temas femininos como antes eram tratados, ela modifica a perspectiva sobre essas histórias. Por exemplo o quadro mais famoso de Artemísia trata o tema Judite e Holofernes, muitas vezes interpretado como os perigos da verdadeira "mulher fatal", de uma mulher que trai a confiança de um homem, basicamente uma visão masculina. Ela é vista por Artemísia como a mulher justiceira, por alguém que salva o seu povo e apoiada por outra mulher consegue acabar com a repressão masculina. São quadros que mostram uma visão de superioridade da mulher sobre o homem e conhecendo a história de vida da pintora, não podemos deixar de sentir uma vontade de ela própria decepar alguns homens.
A carta dela existente no Livro A Nova História de Arte, Janson, é uma delícia. A confiança dela nos seus talentos, em si própria, é incrível. Mas ao mesmo tempo demonstra uma humildade perante o encomendador, apesar de se notar uma posição defensiva em relação ao novo encomendador. Como ela própria indica, tinha razões para isso, a história sobre o Bispo entregar o desenho dela para outro pintor pintar, demonstra as dificuldades que ela passou, mesmo quando já era uma pintora reputada. Sinto uma mulher orgulhosa, de ser mulher, de ser Romana, de ser pintora, que valoriza um homem da sua confiança, mas que receia um homem desconhecido.
Na história de arte, destaco a importância das suas obras pela nova perspectiva que traz, a perspectiva feminina, algo que nenhum pintor homem conseguiria, conjugada com talentos pictóricos ao alcance de muito poucos. Não sou um feminista, muito pelo contrário, mas a minha admiração pelas mulheres é enorme e em Artemísia Gentileschi encontrei uma mulher fascinante, de talentos ao nível dos melhores e que cria uma arte diferente. Resta-me esperar que a historiografia continue a valorizar o trabalho das pintoras.

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