Hoje participei numa actividade, que conjuga cultura e caminhadas. Com o apropriado título de Passos Contados em Vila Real de Santo António. É a primeira de várias que se realizarão este ano. São destas actividades que as cidades precisam, retirar as pessoas de casa, dar novos conhecimentos, dinamizar determinados espaços e tantas outras coisas positivas. É curioso como a cultura é saudável, não só para a mente, como também para o corpo.
O início deu-se no arquivo Rosa Mendes, onde se encontra a exposição realizada pelo Museu Municipal de Faro, cedida por uns meses a Vila Real de Santo António (outro exemplo de dinamização cultural, baseada na partilha de conhecimentos, que pode enriquecer os museus e outros espaços de divulgação cultural, tendo um maior número de exposições temporárias) sobre os caminhos de ferro no Algarve, sendo que o passeio baseava-se num passeio sobre o comboio em Vila Real de Santo António e era orientado pelo Museólogo do museu de Faro. A experiência do Museólogo foi sem dúvida uma mais valia, pode partilhar as suas experiências na execução da exposição, algumas conclusões óbvias sobre a realidade da região no passado e presente, conhecimentos retirados de disputas entre deputados da monarquia constitucional e de viagens realizadas nos primeiros anos da ferrovia. Alguém diria que o segundo troço ferroviário em Portugal foi construído entre a Mina de São Domingos e Pomarão (Mértola)?
Uma coisa importante que eu quero destacar do património, sem dúvida que a história da ferrovia é importante, curiosa e que interessa a muita gente, mas tem que ser mais que isso, tem que ser uma base para dinamização da ferrovia nos nossos dias. O transporte ferroviário não é só passado, tem que ser futuro, apesar de não ser presente. Acho que a exposição pretende isso, o Museólogo no seu discurso nunca esqueceu o futuro, a importância para o sector como o turismo, foi bastante destacado, como não podia deixar de ser. Um ponto curioso foi a estação de Lagos, actualmente a original está ao abandono e é talvez a estação mais interessante no Algarve na tipologia tradicional, abandonada em prol de uma construção já do século XXI, sem valor algum (duvido estar a dizer uma asneira), mas que lendo umas noticias recentes compreende-se o porque de tal acontecer, típicas manobras imobiliárias e camarárias.
Sobre o passeio, além do arquivo, passou-se pelo apeadeiro do Guadiana (artigo que aborda o assunto, de forma interessante: https://www.publico.pt/local/noticia/vila-real-de-st-antonio-perdeu-o-comboio-e-a-ficou-a-ver-passar-os-carros-1703125), pelo bairro ferroviário construído também por Cottinelli Telmo(?), como a estação de Vila Real de Santo António. O bairro é um conjunto pequeno, afastado da cidade antiga, que tem algum valor arquitectónico e simbólico, mas que se encontra num contexto impeditivo, com barracões anexos, numa ideia de conceber espaços uma nova zona industrial, que parecem ser apenas uma daquelas típicas loucuras dos últimos anos. A estação, o ex libris do passeio, trata-se de um interessante exemplar modernista, que se adapta muito bem ao local, a arquitectura volumétrica, simples, toda pintada de branco, relembra a cal tão algarvia e no alçado a tardoz, virado para a linha ferroviária, a cimalha (conhecida por pala) em betão armado é um exemplo do que a arquitectura contemporânea pode oferecer, a sua eficiência conjugada à beleza arquitectónica é louvável.
Factores de interesse é coisa que não falta na cidade de Vila Real de Santo António, exemplares arquitectónicos importantíssimos, muita história para contar e um fantástico contexto natural. Uma cidade que vale a pena uma visita, mesmo que o comboio não seja o melhor meio para a visitar.
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