domingo, 26 de junho de 2016

Urbanismo Medieval

No outro dia escrevi sobre o urbanismo Islâmico. Hoje vou tentar escrever sobre o urbanismo Medieval, cristão e português.
A época medieval europeia não é durante muitos séculos uma cultura urbana, as cidades da antiguidade clássica vão sendo abandonadas, em prol da vida do campo, mais segura e garantia subsistência, ao contrário das cidades que sentem a falta de um poder autoritário que as proteja. O maior exemplo deste fenómeno será a própria cidade de Roma, grande capital do império, com um milhão de habitantes e que no século XIV tem cerca de 40000 habitantes. O mundo medieval substitui as grandes cidades estado, autosuficentes, por cidades pequenas, próximas umas das outras e que vivem em cooperação, não posso garantir, mas acredito que antes do século XI não existia cidade nenhuma na Europa que tivesse mais de 100 000 habitantes.
Então mas como é que se processa o urbanismo medieval? Um pouco como todos sabem, construção de muralhas, zonas elevadas, próximas a rios e um urbanismo algo desorganizado. Mas a partir dos séculos XI e XII as coisas começam a alterar-se. São fundadas novas cidades, novas partes de cidades, mais organizadas, pensadas e que abandonam as zonas mais elevadas, por zonas de vales, criando as partes "Altas" e "Baixas" das cidades. Existindo mesmo cidades novas fortemente organizadas e racionalizadas. Mas essa não é a essência do Urbanismo Medieval, o crescimento natural, baseado num casario baixo, onde os mais importantes edifícios se destacam pela altura (imaginem uma catedral gótica com os seus pináculos, numa cidade com maior parte das casas com um piso) e a rua é o eixo essencial da vida da população. Em Portugal o papel da rua é tanto durante a época medieval, que até as grandes modificações urbanísticas na cidade de Lisboa são construções de ruas. E as cidades portuguesas constroem-se a partir da rua principal, a famosa Rua Direi(c)ta, que ligava todos os edifícios relevantes e as portas da cidade. Porque a rua? Pelas condições de vida das habitações, casas pequenas, sem divisões, sem grandes aberturas, sem zonas de higiene e construídas em materiais pobres, como se diz muitas vezes "frias no inverno, quentes no verão", as casas literalmente expulsam as pessoas para rua. A cidade também tem outros espaços importantes, não é só a rua, o outro espaço mais importante será o adro da igreja, onde se realizam um grande número de actividades, desde cerimónias religiosas a profanas.
Por fim, dizer que as cidades portuguesas passam pelo mesmo que as restantes cidades europeias, tendência a abandonar as zonas altas por zonas baixas, cidades pequenas, próximas, até a principal, Lisboa na época medieval mantinha fortes relações de solidariedade com Santarém, dividindo protagonismo. Mas também novas cidades bastante organizadas, sendo o principal exemplo a cidade de Tomar.

Guernica - Pintura - Pablo Picasso

A pintura Guernica é hoje reconhecida por muitos críticos como a principal pintura do século XX e a obra-prima de Pablo Picasso.
Na minha singela opinião tal se deve à união entre tema e forma que se encontra em Guernica; principalmente ao tipo de tema histórico que parecia arredado da arte do século XX. Isto não significa que a mestria de Picasso apareça como secundário, é essa mestria que justifica o tema, é a capacidade artística que permite sentir um conjunto de emoções que se aproximam da realidade histórica.
A crítica de Guernica nem sempre foi positiva, ao tempo da sua exposição inicial não agradou nem a "Gregos", nem a "Troianos", numa actualização para o século XX, nem a fascistas, nem a comunistas. O porque é óbvio, Picasso não pintou a "glória" da Guerra, nem ideologias políticas, mas sim as trágicas consequências do bombardeamento alemão à pequena aldeia Basca Guernica, sem valor militar, apenas semeando a destruição e a morte nos habitantes inocentes.
Picasso afirma-se assim como um agente do sofrimento, como  um opositor da guerra e utilizando a sua arte para relembrar os danos nefastos desta. Para o conseguir recorre apenas a três cores, o preto, o cinzento e o branco, por outras palavras a luz e a ausência de luz; dando a ideia que a acção decorre num quarto escuro, onde se encontram um conjunto de figuras em gestos trágicos, originando uma pintura de dor, horror, morte e sofrimento. Com um rico simbolismo, que pode levantar várias e distintas opiniões, mas que incide principalmente na tragédia, apesar de como em todos os males, parece ficar sob tudo pequenos símbolos de esperança. Destaco duas figuras trágicas, uma mãe com o filho morto nos braços, numa Pietà cubista em que toda a mãe é dor e que até os próprios olhos têm a forma de lágrimas; e o guerreiro caído, morto, olhando o espectador, que segura numa mão uma espada quebrada e na outra parece mostrar as chagas de cristo. As restantes figuras conjugam-se nesse sentimento de dor, três delas femininas e em gestos trágicos, uma delas mesmo em chamas e a gritar, mas duas das figuras direcionam o olhar para o único símbolo de modernidade, "la bombilla", a lâmpada eléctrica, a quem uma das figuras parece mostrar uma candeia, num gesto que relembra por exemplo a estátua da liberdade de Bartholi e que parece um gesto de racionalidade perante o dano causado pela "bombilla". O cavalo e o touro figuras já utilizados por Picasso anteriormente, também aparecem em Guernica reforçando a riqueza simbólica e o dramatismo da cena. Outros símbolos podiam ser destacados, mais pequenos, mais complicados de se ver como o galo também a "gritar" e como a flor na mão do guerreiro. Que apesar de interpretação complicada e não desenvolver aqui, merecem um destaque para demonstrar a riqueza da obra e a atenção a todos os pormenores de Pablo Picasso.
Guernica o apogeu da obra de Picasso, uma história de horror, que retrata os sofrimentos da população de Guernica, testemunhando os problemas da época, com o objectivo de tal como Géricault o tinha feito na Jangada de Medusa, de sensibilizar, impressionar e destacar um acontecimento negro da história, mas utilizando os recursos artísticos cubistas e surrealistas, realizando um cubismo distinto, mais consciente, que demonstra a capacidade da arte do século XX.

Urbanismo Barroco

É o urbanismo barroco que concretiza o urbanismo moderno, ao contrário do que aconteceu durante o renascimento, quando as alterações urbanísticas são pontuais e as formas de viver a cidade continuam praticamente as mesmas que durante a época medieval, o barroco criou grandes planos urbanísticos, quer de reorganização e expansão urbana, quer novas planificações.
A razão da alteração do paradigma urbanístico, está fortemente relacionado com a importância de determinadas cidades que passam a acolher um poder centralizador. Essas cidades conhecidas como capitais, sedes da corte e que se sobrepõem a outras cidades dentro de um estado, são cidades que sofrem uma grande expansão territorial e crescimento populacional durante a época barroca, que proporciam a criação de importantes planos urbanísticos; planos são orientados pelo poder autoritário, do Rei, do Príncipe ou do Papa, que utiliza o urbanismo para vincar o seu poder. As grandes cidades barrocas e onde se espelha o urbanismo barroco são então as grandes capitais europeias.
O urbanismo propriamente dito do barroco, utiliza os estudos teóricos do renascimento, mas afasta-se das cidades ideiais, de cidades em que os planos urbanísticos obedecem aos princípios da ordem e harmonia do cosmos, procurando sim criar cidades em que as percepções visuais são o elemento mais relevante, conduzindo o olhar do visitante da cidade aos elementos mais importantes e representativos do poder autoritário. Para criar essas percepções visuais, o barroco vai utilizar um instrumento típico da arte moderna, a perspectiva, assumindo a mesma importância que já tinha em artes como a pintura e a arquitectura. A perspectiva adaptada ao urbanismo assenta na perspectiva viária, formando-se vias rectas,  compostas por edifícios de arquitetura uniforme. Métodos que permitem um olhar sem perturbações para a vista pretendida, muitas vezes tratando-se de praças, igrejas e palácios. Convertendo a cidade não numa cidade perfeita em harmonia com o cosmos, mas sim numa expressão do poder autoritário, onde os grandes momentos se sobrepõem e guiam os planos urbanísticos, de destacar que importância do poder no urbanismo barroco vai ser exponenciado nas cidades residência, formadas em dependência do palácio e que conduz todos os olhares, sendo o melhor exemplar o palácio de Versalhes.
O gosto cenográfico do barroco, tem na perspectiva um dos maiores aliados, criando espectáculos visuais, transformando as cidades em cenários de poder e impressionando os que têm a possibilidade de as visitar.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Urbanismo Islâmico

O Islão expandiu-se rapidamente e por vastos território desde o ocidente até ao oriente. O urbanismo implantado pelo Islão não é muitas mais do que uma simples adaptação a cidades pré-existentes, sendo raras as vezes em que o mesmo cria o seu próprio espaço urbano. As cidades islâmicas são muitas vezes consideradas como confusas e labirínticas, isso não significa que o urbanismo do Islão seja todo dessa forma, mas é um importante ponto de partida para compreender uma diferença essencial entre o urbanismo islâmico e o urbanismo cristão.
A diferença entre um e outro, não é que um seja organizado e outro não, mais o urbanismo Medieval cristão é praticamente inexistente até ao século XI, porque a população vai ocupar o campo e não as cidades, o que não acontece no mundo islâmico, que ocupa principalmente as cidades pré-existentes. A principal diferença é o conceito de rua, a rua medieval cristã é um espaço importantíssimo, a vida no interior das casas era desagradável e então a população realizava a sua vida nesse espaço comum, o contrário acontece no mundo islâmico, mais quente, onde o espaço interior da casa consiste num espaço aberto e outro fechado, não necessitando tanto da rua, a cultura islâmica vai criar ruas mais estreitas, onde as sombras abundam, sendo simplesmente eixos de ligação da habitação aos espaços públicos mais importantes.
Importante referir a forma de organização urbana das cidades islâmicas, que vai continuar essencialmente igual nas cidades portuguesas, no sul, durante vários séculos. Uma zona fortemente amuralhada, a Alcaçova, espaço essencialmente militar, mas também de poder onde se encontrava o Alcácer (palácio); também amuralhado o espaço da Medina, a cidade propriamente dita, onde se encontravam todos os edifícios mais importantes, como a Mesquita, o Bazar e os Banhos. E por último um espaço fora das muralhas, os arrabaldes, espaço urbano e rural, onde se encontravam importantes culturas agrícolas. Este espaço vai ser aproveitado pelo mundo cristão para formar os bairros de mouros.
O melhor exemplo que eu conheço deste tipo de cidade islâmica será Silves, é ainda bem visível a Alcaçova (Castelo) e alguns trocos da muralha da Medina. É pena que a muralha da Medina esteja mal aproveitada, exceptuando o espaço de muralha aproveitado pelo museu. De referir também que em Lisboa só se vai abandonar o espaço da Alcaçova com o Rei D. Manuel I, já em época moderna, um exemplo da importância de conhecer este tipo de organização urbana e não ficar só pelos conceitos simplistas de "irracional", "confuso" e "labiríntico".
Nos anos 60, Fernando Chueca Goitia, escreveu isto sobre as possibilidades futuras do urbanismo islâmico: "Elas pareciam-nos até agora o cúmulo da inadaptação à vida moderna, pela impossibilidade de circulação automóvel nestas cidades. Esta circulação atingiu, no entanto, tais proporções que mesmo nas cidades modernas chegara um dia em que terá de ser proibida no centro, ficando partes importantes reservadas exclusivamente aos peões. Estas medinas muçulmanas poderão vir a ser excelentes ilhotas, no coração da urbe do futuro, lugares para gozar a calma e o silêncio, ou para o discreto deambular pelas ruas animadas e pitorescas. Assim se reatará a vida de cidade, a vida de rua, que o automóvel, esse monstro insaciável, está fazendo desaparecer das nossas urbes".
Conhecer o passado, pode ser um caminho para melhorar o futuro.

terça-feira, 21 de junho de 2016

A "Reconquista" e as suas Histórias

Na história de Portugal um dos períodos mais importantes e celebrados é o seu início, que consiste num período de "reconquista" de territórios a sul sobre o domínio muçulmano.
Muitas são as histórias contadas, é um período de muitas lendas e de uma percepção muito negativa do território ibérico controlado pelo Islão. No norte do país ainda se trata a população do Sul por "Mouro"  termo pejorativo que considera ao mesmo tempo que Portugal só é Portugal a norte e que a cultura do Sul era mais pobre. Essa ideia das gentes do Norte não precisa de mais de 30 segundos para ser desmentida. A cultura, a arquitectura e a arte estavam num patamar muito superior a sul do que a norte e a população da época sabia-o na perfeição. Só que ao longo dos séculos, considerando que a história é escrita pelo povo vencedor, que expulsa o domínio muçulmano, vai formando ideias de superioridade sobre o mesmo. Nós temos essa mentalidade hoje em dia, o Algarve será uma região "atrasada" porque foi a última a expulsar o domínio muçulmano. É exactamente o oposto, o Algarve é diferente e melhor que o resto do país por essa influência, tal como outras tantas de povos com civilizações muito superiores aos povos do Norte. Mas pronto, eu não devo ir por estes caminhos, porque esse não é o verdadeiro papel do historiador, apesar de no Islão existirem banhos, palácios, organização urbana, saneamento, poesia, música e uma maior qualidade artística, não significa que o povo do Norte que vive no campo, não tem hábitos de higiene, nem culturais, seja pior ou menos desenvolvido.
Mas queria falar um pouco sobre a reconquista, porque conta muitas histórias além dos conceitos básicos que nos ensinam quando somos crianças. Ontem li a história no Geraldo, Sem Pavor.
A conquista de território nem sempre era realizada pelo rei e o seu exército, mais, as grandes cidades como Lisboa são conquistadas por exércitos cruzados do Norte e centro da Europa, também tal acontece com Silves, os exércitos a caminho da terra Santa acabavam por dar um enorme a apoio à reconquista portuguesa. Além dos cruzados ainda existiam as ordens militares, também de origem do centro e Norte da Europa, que por exemplo o sul de território foi conquistada quase só devido à ordem de São Tiago da Espada. E ainda há o exemplo do Geraldo, Sem Pavor, apoiado pelo rei D. Afonso Henriques, este homens, agia com um bando de arruaceiros e marginais, por sua conta, atacando pela noite as cidades, incendiado as muralhas e conquistando as cidades. Com o principal objectivo de conquistar Badajoz, conseguiu conquistar territórios próximos e em redor da mesma cidade. Tratando-se de uma cidade importante para o domínio islâmico, não esquecer que é das poucas cidades fundadas pelo Islão, obviamente que a defesa da mesma intensificou-se com militares de outros territórios. Mas o mais curioso para a História será que o próprio rei de Espanha vai enviar militares para impedir a conquista portuguesa de Badajoz. Sim, o Rei Cristão, apoiou os muçulmanos. A "reconquista" desculpa-se com a religião, mas obviamente que tem outros interesses por detrás e conquista de Badajoz por Portugal significava um domínio dos territórios actuais do Alentejo e Algarve, territórios que o rei espanhol também tinha interesse. Consequentemente a conquista de Badajoz viu-se frustrada pelos tropas portuguesas, apoiadas pelo rei, que nessa cidade viu a sua vida militar praticamente finalizada, tendo partido a perna na fuga do interior da cidade, capturado por tropas espanholas. O Sem Pavor, foi obrigado a entregar as praças conquistadas a muçulmanos e espanhóis. Curiosamente o mesmo vai continuar a incomodar constantemente os territórios muçulmanos, até que um período de tréguas celebrado entre cristãos e muçulmanos leva-o para Sevilha, onde irá comandar um exército muçulmano, mas o mesmo não tinha virado a casaca por completo, tendo sido descobertas cartas entre o mesmo e o rei de Portugal, incentivando a invasão de Marrocos, após a descoberta, foi condenado à morte.
São muitas as histórias que a "reconquista" conta, as relações entre os povos são talvez das mais curiosas e inesperadas. A história não é tão básica como muitas vezes nos dão a conhecer.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Génio Barroco

O que é o génio artístico? O que é arte? Duas questões importantes para compreender a história de arte e a arte em si. Na minha opinião existe uma forte ligação entre ambas, os maiores artistas são aqueles que acrescentaram maior génio nas suas obras. A arte evolui a partir dos seus génios, são eles que quebram com o passado, inovam e criam os pilares do futuro. Importante esquecer que o génio não é só inspiração divina ou talento natural, é também muito trabalho. Mas não é errado pensar no génio artístico como algo extraordinário e então conceder uma explicação menos terrena. 
Um dos grandes génios da arte e o meu pintor preferido é Michelangelo Merisi, mais conhecido por Caravaggio. Pintor Barroco, mestre do Chiaroscuro e quem traz o povo para pintura, é o primeiro realista e afasta-se das imagens idealizadas do renascimento. 
No livro História da Arte Gombrich encontrei uma história muito interessante sobre este pintor e que ajuda a compreender o que é o génio artístico. Após uma encomenda para um altar, com o tema tradicional de São Mateus a escrever o Evangelho inspirado por um anjo, Caravaggio realiza uma pintura que retrata o São Mateus como um homem comum, sentado, com um enorme livro sobre uma das pernas, numa posição pouco natural de como quem nunca segurou lidou com um livro de tais dimensões e o anjo não é só inspiração do santo, ele literalmente guia a mão do santo, fragilizando ainda mais a imagem do santo. Esta pintura foi recusada e Caravaggio realizou outra em que o Santo já escreve sobre uma mesa, com trajes mais nobres e olha para o anjo, que já não guia a sua mão, mas que parece dizer-lhe o que escrever. Esta pintura já foi aceite. 
Porque que uma pintura é aceite e a outra não? Porque uma responde às regras do tema e a outra é a interpretação própria do pintor. Caravaggio sabia exactamente o que os encomendadores queriam, mas mesmo assim fez uma pintura consoante a sua interpretação. Consoante o seu génio artístico. Um tema tantas vezes pintado, mas que Caravaggio dá uma nova interpretação. A história da pintura ficou mais rica com uma pintura recusada. A capacidade de um artista pode ser vista pela utilização da cor, da luz, da sombra, dos trajes, da anatomia, mas é especialmente vista pela sua capacidade inventiva, de criar o inesperado, de dar uma nova perspectiva. A pintura de Caravaggio não era bela, não é esse o seu propósito, mas tem tudo aquilo que diferencia uma grande obra de arte e o que um verdadeiro amante de arte procura encontrar. 

P.S 
Este texto era suposto ser um primeiro rascunho para um estudo maior: do belo, de Caravaggio e afins. Mas infelizmente com os exames não tenho oportunidade de o desenvolver. De destacar ainda que ambas pinturas são de excelência artística.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Integralismo Lusitano

Numa das minhas últimas cadeiras como universitário estudei uma ideologia política que captou muito o meu interesse. Infelizmente a cadeira não correu como seria de esperar, pode-se dizer que não cheguei a ter aulas, foram poucas, umas faltei e as outras pouco informativas. Mas foi necessário fazer um comentário sobre um conjunto de textos, no meu caso coube-me o Integralismo Lusitano. 
Eu não sou um filho do 25 de Abril, não é a minha geração, não ando com cravos, não denomino como o dia da liberdade e gosto de explicar às pessoas o que aconteceu a Grândola após essa data. Logo isto significa que não olho para actual momento político com paixão, nem o que nos foi legado desde a revolução de Abril. Gosto de democracia e de liberdade, mas a democracia em que nós vivemos sempre me pareceu fraca e pouco participativa. E gosto pouco de partidos ideológicos, nunca gostei, talvez a culpa até não seja dos partidos ou das ideologias em si, mas sim destas terem desaparecido dos mesmos. 
Então onde é que entra o Integralismo aqui? Entra que é um movimento anti partidário. Na história das ideias políticas o movimento mais próximo é claramente o movimento nacionalista Action Francese, nascido em França pela mão do seu líder e figura principal Maurras. Em Portugal tem como órgão uma revista A Nação Portuguesa e a sua principal figura foi António Sardinha. Do primeiro terço do Século XX, o Integralismo vai realizar um dura crítica à revolução liberal de 1789, principalmente ao estado centralizador e ao individualismo do Homem. Para o Integralismo o Homem não existe como indivíduo, suportando-se em estudos biológicos, afirma que o Homem nasce dentro de uma família, que o Homem não vive em comunidade por querer, mas sim por necessitar. Baseando-se na família, o esquema político vai dividir-se em grémios profissionais ("famílias" de profissionais, conhecidos como sindicatos hoje em dia), que formam os municípios, que vão formar as províncias e por fim a junção das mesmas forma a nação, dirigida por um Rei. Temos então um estado bastante descentralizado, a participação democrática existiria essencialmente a nível municipal. Um esquema político muito aproximado ao que existia em Portugal durante os séculos XIV e XV. O movimento Integral procura e encontra então na história os pilares para construir o futuro. 
Mas o que é que isto levanta de relevante nos nossos dias? Gosto especialmente do conceito de família como base da sociedade. Será que muitos dos problemas existentes nos nossos dias não se devem ao egoísmo do "indivíduo" que apenas quer saber de si? Sobre o estado descentralizado é curioso de ver que também é completamente distinto do que exista à época e continua a manter-se hoje em dia. Um estado fortemente burocrático, centralizador e que parece preocupar-se pouco com as diferentes regiões. Não sofremos ainda hoje em dia de um domínio excessivo de Lisboa? Mais, será que o povo berrando com o primeiro ministro participa realmente na política do estado? Não seria melhor uma participação mais próxima, que defendesse realmente os seus interesses? 
Para finalizar gostava de destacar outro factor importante, a política não está morta, não atingimos a perfeição e podemos claramente modifica-la. Quem sabe, como tantas vezes aconteceu em política, olhando para o passado?