O Islão expandiu-se rapidamente e por vastos território desde o ocidente até ao oriente. O urbanismo implantado pelo Islão não é muitas mais do que uma simples adaptação a cidades pré-existentes, sendo raras as vezes em que o mesmo cria o seu próprio espaço urbano. As cidades islâmicas são muitas vezes consideradas como confusas e labirínticas, isso não significa que o urbanismo do Islão seja todo dessa forma, mas é um importante ponto de partida para compreender uma diferença essencial entre o urbanismo islâmico e o urbanismo cristão.
A diferença entre um e outro, não é que um seja organizado e outro não, mais o urbanismo Medieval cristão é praticamente inexistente até ao século XI, porque a população vai ocupar o campo e não as cidades, o que não acontece no mundo islâmico, que ocupa principalmente as cidades pré-existentes. A principal diferença é o conceito de rua, a rua medieval cristã é um espaço importantíssimo, a vida no interior das casas era desagradável e então a população realizava a sua vida nesse espaço comum, o contrário acontece no mundo islâmico, mais quente, onde o espaço interior da casa consiste num espaço aberto e outro fechado, não necessitando tanto da rua, a cultura islâmica vai criar ruas mais estreitas, onde as sombras abundam, sendo simplesmente eixos de ligação da habitação aos espaços públicos mais importantes.
Importante referir a forma de organização urbana das cidades islâmicas, que vai continuar essencialmente igual nas cidades portuguesas, no sul, durante vários séculos. Uma zona fortemente amuralhada, a Alcaçova, espaço essencialmente militar, mas também de poder onde se encontrava o Alcácer (palácio); também amuralhado o espaço da Medina, a cidade propriamente dita, onde se encontravam todos os edifícios mais importantes, como a Mesquita, o Bazar e os Banhos. E por último um espaço fora das muralhas, os arrabaldes, espaço urbano e rural, onde se encontravam importantes culturas agrícolas. Este espaço vai ser aproveitado pelo mundo cristão para formar os bairros de mouros.
O melhor exemplo que eu conheço deste tipo de cidade islâmica será Silves, é ainda bem visível a Alcaçova (Castelo) e alguns trocos da muralha da Medina. É pena que a muralha da Medina esteja mal aproveitada, exceptuando o espaço de muralha aproveitado pelo museu. De referir também que em Lisboa só se vai abandonar o espaço da Alcaçova com o Rei D. Manuel I, já em época moderna, um exemplo da importância de conhecer este tipo de organização urbana e não ficar só pelos conceitos simplistas de "irracional", "confuso" e "labiríntico".
Nos anos 60, Fernando Chueca Goitia, escreveu isto sobre as possibilidades futuras do urbanismo islâmico: "Elas pareciam-nos até agora o cúmulo da inadaptação à vida moderna, pela impossibilidade de circulação automóvel nestas cidades. Esta circulação atingiu, no entanto, tais proporções que mesmo nas cidades modernas chegara um dia em que terá de ser proibida no centro, ficando partes importantes reservadas exclusivamente aos peões. Estas medinas muçulmanas poderão vir a ser excelentes ilhotas, no coração da urbe do futuro, lugares para gozar a calma e o silêncio, ou para o discreto deambular pelas ruas animadas e pitorescas. Assim se reatará a vida de cidade, a vida de rua, que o automóvel, esse monstro insaciável, está fazendo desaparecer das nossas urbes".
Conhecer o passado, pode ser um caminho para melhorar o futuro.
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