domingo, 26 de junho de 2016

Guernica - Pintura - Pablo Picasso

A pintura Guernica é hoje reconhecida por muitos críticos como a principal pintura do século XX e a obra-prima de Pablo Picasso.
Na minha singela opinião tal se deve à união entre tema e forma que se encontra em Guernica; principalmente ao tipo de tema histórico que parecia arredado da arte do século XX. Isto não significa que a mestria de Picasso apareça como secundário, é essa mestria que justifica o tema, é a capacidade artística que permite sentir um conjunto de emoções que se aproximam da realidade histórica.
A crítica de Guernica nem sempre foi positiva, ao tempo da sua exposição inicial não agradou nem a "Gregos", nem a "Troianos", numa actualização para o século XX, nem a fascistas, nem a comunistas. O porque é óbvio, Picasso não pintou a "glória" da Guerra, nem ideologias políticas, mas sim as trágicas consequências do bombardeamento alemão à pequena aldeia Basca Guernica, sem valor militar, apenas semeando a destruição e a morte nos habitantes inocentes.
Picasso afirma-se assim como um agente do sofrimento, como  um opositor da guerra e utilizando a sua arte para relembrar os danos nefastos desta. Para o conseguir recorre apenas a três cores, o preto, o cinzento e o branco, por outras palavras a luz e a ausência de luz; dando a ideia que a acção decorre num quarto escuro, onde se encontram um conjunto de figuras em gestos trágicos, originando uma pintura de dor, horror, morte e sofrimento. Com um rico simbolismo, que pode levantar várias e distintas opiniões, mas que incide principalmente na tragédia, apesar de como em todos os males, parece ficar sob tudo pequenos símbolos de esperança. Destaco duas figuras trágicas, uma mãe com o filho morto nos braços, numa Pietà cubista em que toda a mãe é dor e que até os próprios olhos têm a forma de lágrimas; e o guerreiro caído, morto, olhando o espectador, que segura numa mão uma espada quebrada e na outra parece mostrar as chagas de cristo. As restantes figuras conjugam-se nesse sentimento de dor, três delas femininas e em gestos trágicos, uma delas mesmo em chamas e a gritar, mas duas das figuras direcionam o olhar para o único símbolo de modernidade, "la bombilla", a lâmpada eléctrica, a quem uma das figuras parece mostrar uma candeia, num gesto que relembra por exemplo a estátua da liberdade de Bartholi e que parece um gesto de racionalidade perante o dano causado pela "bombilla". O cavalo e o touro figuras já utilizados por Picasso anteriormente, também aparecem em Guernica reforçando a riqueza simbólica e o dramatismo da cena. Outros símbolos podiam ser destacados, mais pequenos, mais complicados de se ver como o galo também a "gritar" e como a flor na mão do guerreiro. Que apesar de interpretação complicada e não desenvolver aqui, merecem um destaque para demonstrar a riqueza da obra e a atenção a todos os pormenores de Pablo Picasso.
Guernica o apogeu da obra de Picasso, uma história de horror, que retrata os sofrimentos da população de Guernica, testemunhando os problemas da época, com o objectivo de tal como Géricault o tinha feito na Jangada de Medusa, de sensibilizar, impressionar e destacar um acontecimento negro da história, mas utilizando os recursos artísticos cubistas e surrealistas, realizando um cubismo distinto, mais consciente, que demonstra a capacidade da arte do século XX.

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