Na história de Portugal um dos períodos mais importantes e celebrados é o seu início, que consiste num período de "reconquista" de territórios a sul sobre o domínio muçulmano.
Muitas são as histórias contadas, é um período de muitas lendas e de uma percepção muito negativa do território ibérico controlado pelo Islão. No norte do país ainda se trata a população do Sul por "Mouro" termo pejorativo que considera ao mesmo tempo que Portugal só é Portugal a norte e que a cultura do Sul era mais pobre. Essa ideia das gentes do Norte não precisa de mais de 30 segundos para ser desmentida. A cultura, a arquitectura e a arte estavam num patamar muito superior a sul do que a norte e a população da época sabia-o na perfeição. Só que ao longo dos séculos, considerando que a história é escrita pelo povo vencedor, que expulsa o domínio muçulmano, vai formando ideias de superioridade sobre o mesmo. Nós temos essa mentalidade hoje em dia, o Algarve será uma região "atrasada" porque foi a última a expulsar o domínio muçulmano. É exactamente o oposto, o Algarve é diferente e melhor que o resto do país por essa influência, tal como outras tantas de povos com civilizações muito superiores aos povos do Norte. Mas pronto, eu não devo ir por estes caminhos, porque esse não é o verdadeiro papel do historiador, apesar de no Islão existirem banhos, palácios, organização urbana, saneamento, poesia, música e uma maior qualidade artística, não significa que o povo do Norte que vive no campo, não tem hábitos de higiene, nem culturais, seja pior ou menos desenvolvido.
Mas queria falar um pouco sobre a reconquista, porque conta muitas histórias além dos conceitos básicos que nos ensinam quando somos crianças. Ontem li a história no Geraldo, Sem Pavor.
A conquista de território nem sempre era realizada pelo rei e o seu exército, mais, as grandes cidades como Lisboa são conquistadas por exércitos cruzados do Norte e centro da Europa, também tal acontece com Silves, os exércitos a caminho da terra Santa acabavam por dar um enorme a apoio à reconquista portuguesa. Além dos cruzados ainda existiam as ordens militares, também de origem do centro e Norte da Europa, que por exemplo o sul de território foi conquistada quase só devido à ordem de São Tiago da Espada. E ainda há o exemplo do Geraldo, Sem Pavor, apoiado pelo rei D. Afonso Henriques, este homens, agia com um bando de arruaceiros e marginais, por sua conta, atacando pela noite as cidades, incendiado as muralhas e conquistando as cidades. Com o principal objectivo de conquistar Badajoz, conseguiu conquistar territórios próximos e em redor da mesma cidade. Tratando-se de uma cidade importante para o domínio islâmico, não esquecer que é das poucas cidades fundadas pelo Islão, obviamente que a defesa da mesma intensificou-se com militares de outros territórios. Mas o mais curioso para a História será que o próprio rei de Espanha vai enviar militares para impedir a conquista portuguesa de Badajoz. Sim, o Rei Cristão, apoiou os muçulmanos. A "reconquista" desculpa-se com a religião, mas obviamente que tem outros interesses por detrás e conquista de Badajoz por Portugal significava um domínio dos territórios actuais do Alentejo e Algarve, territórios que o rei espanhol também tinha interesse. Consequentemente a conquista de Badajoz viu-se frustrada pelos tropas portuguesas, apoiadas pelo rei, que nessa cidade viu a sua vida militar praticamente finalizada, tendo partido a perna na fuga do interior da cidade, capturado por tropas espanholas. O Sem Pavor, foi obrigado a entregar as praças conquistadas a muçulmanos e espanhóis. Curiosamente o mesmo vai continuar a incomodar constantemente os territórios muçulmanos, até que um período de tréguas celebrado entre cristãos e muçulmanos leva-o para Sevilha, onde irá comandar um exército muçulmano, mas o mesmo não tinha virado a casaca por completo, tendo sido descobertas cartas entre o mesmo e o rei de Portugal, incentivando a invasão de Marrocos, após a descoberta, foi condenado à morte.
São muitas as histórias que a "reconquista" conta, as relações entre os povos são talvez das mais curiosas e inesperadas. A história não é tão básica como muitas vezes nos dão a conhecer.
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